Repúdio a ataque a bomba em consulado da China no Rio de Janeiro

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Repúdio soa até fraco para definir o sentimento em relação ao ataque a bomba realizado na noite de quinta-feira, 16 de setembro, em frente ao Consulado-Geral da China no Rio de Janeiro. Um homem, ainda sem identificação divulgada pelos órgãos de segurança, aparece deixando o artefato explosivo por ali. No Twitter, vizinhos relatam que o estrondo com a detonação da bomba fez as janelas tremerem. Eram pouco mais de 21h. Felizmente, ninguém se feriu.

No mesmo dia, o principal jornal do Rio de Janeiro, O Globo, amanhecia com um texto assinado pelo embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, exaltando a parceira entre os países BRICS e o papel estratégico do Brasil neste processo, dado que o país é o único do grupo na América Latina. Brasil e China são parceiros globais estratégicos, e os frutos de uma relação amistosa se revelam não só em trocas comerciais (a China, segundo a FGV, respondeu só em 2021 por 67% do superávit brasileiro), mas em diversos mecanismos e parcerias que garantiram inclusive milhões de doses de vacinas contra a Covid-19.

Embora nas redes sociais para apoiadores, o presidente brasileiro desdenhe e ponha constantemente a vacina da Sinovac em dúvida, na reunião dos BRICS que se realizou na semana passada, o mandatário brasileiro agradeceu a Xi Jinping pelas doses de CoronaVac e por outros apoios durante a pandemia. A China garantiu dezenas de reuniões de equipes técnicas, de médicos, além de doação de equipamentos e suprimentos hospitalares – e a agilização do embarque de mercadorias compradas na China. Termos uma economia menos fragilizada ainda e um estrago menos horripilante com a pandemia no Brasil são frutos diretos de boa relação com a China.

É inaceitável neste contexto atos de violência contra instituições e cidadãos chineses no Brasil. Contra quaisquer cidadãos, inclusive. Mas é impossível não imaginar que a coragem de alguém em detonar uma bomba não tenha sido motivada por ataques xenófobos que partem da liderança.

Em 17 de maio do ano passado, um grupo de manifestantes no Rio saiu da Barra da Tijuca e, de carro, fechou a rua em frente ao Consulado, já em Botafogo, gritando o que consideram algum tipo de xingamento: comunistas. Era uma época de ataques da liderança brasileira, caso do então ministro da Educação e de um deputado federal filho do presidente.

Cerca de dois meses antes, em 20 de março de 2020, a embaixada da China no Brasil, em Brasília, amanheceu com faixas contra o presidente chinês, Xi Jinping, e o embaixador da China no Brasil – que havia respondido com dureza a ataques sem sentido por parte de alguns brasileiros no poder. Fala-se em ala ideológica do governo, num suposto contraponto à que seria pragmática. Os efeitos disso na população, no entanto, são catastróficos: semear violência nunca traz algo positivo. O próprio Itamaraty em uma das contendas se pronunciou – e sem surpresas, porém de forma estapafúrdia, espinafrou a diplomacia chinesa. E agora? Haverá algum apoio para as investigações ou posicionamento ante o absurdo que ocorreu no Rio por parte do Ministério das Relações Exteriores brasileiro?

Na China, aliás, os chineses começam o sábado no ritmo do feriado de Meio Outono, um festival com origem rural para celebrar a maior lua cheia do ano e uma época de agradecer pela colheita realizada. Regido pelo calendário lunar, cai no 15º dia do oitavo mês na China, às vésperas do outono e dos dias frios. As famílias se reúnem e distribuem bolinhos da lua – iguarias normalmente doces, redondinhas e saborosas. A gente ganha no trabalho, dos amigos e, claro, dos familiares. Sempre comparei esta festa à Páscoa.

Neste ano, os chineses celebraram que o trio de taikonautas, como chamam seus astronautas, retornou na sexta-feira em segurança a Beijing, depois de 90 dias na estação espacial chinesa. É o maior período em que uma equipe espacial chinesa fica em órbita.

Fiquei pensado na data, na reunião familiar, no retorno em segurança dos taikonautas. Que ambiente o Brasil dá aos chineses que aqui estão a trabalho ou construindo partes de suas vidas? Eles também poderão celebrar em paz este feriado de união? E num futuro voltar para casa em segurança?

Repúdio é pouco. Abaixo, o texto da quinta-feira escrito pelo embaixador Yang Wanming no Globo. E a nota do Radar China, já que é o que, envergonhadamente por este episódio, temos a oferecer.


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