Brasília e a XI Cúpula dos BRICS

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Brasília já vive o clima da XI Cúpula dos BRICS, o grupo informal que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e que, desde o início das reuniões formais, tem atuado coordenadamente em diversos temas, de saúde à educação, finanças e comércio. Na ponta mais visível deste processo está a criação do Novo Banco de Desenvolvimento, também chamado de Banco dos BRICS. Sua criação, capitaneada pela China, foi decidida em uma cúpula no Brasil, realizada em Fortaleza, em 2014. A sede fica em Shanghai, e a presidência rotativa está com a Índia. O Brasil é o próximo a assumir o cargo.

Cinco anos depois, o banco deve finalmente aportar no Brasil, com escritórios em São Paulo e Brasília. O anúncio deve ocorrer justamente durante a Cúpula, até porque dois funcionários já trabalham por aqui, em escritório cedido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Cinco anos depois, no entanto, o grupo segue um caráter mais pragmático que necessariamente alinhado. Mudanças de governo na Índia e no Brasil significaram mudanças na condução das políticas nacionais. Até agora, nada que sinalize rupturas.

Talvez, por parte do Brasil, seja interessante justamente no primeiro ano do atual governo que a Cúpula ocorresse por aqui. Assim, ficou impossível para o país deixar o tema para um segundo plano. No entanto, como num acordo tácito, temas espinhosos não devem constar dos debates – e leia-se temas espinhosos as tensões na Bolívia e na Venezuela, em que China e Rússia apontam claramente para outro direcionamento daquele adotado pelo Brasil.

Mesmo antes das atuais tensões, o governo brasileiro já havia abdicado do encontro ampliado com nações convidadas, tradição que existe desde 2013 e que, na última edição brasileira, havia significado a participação dos líderes sul-americanos. Desta vez, a insistência brasileira para que Juan Guaidó participasse representando o governo venezuelano, enquanto este não é reconhecido por outros BRICS, acabou por gerar um impasse. A solução foi deixar o encontro ampliado de lado.

Diplomacia e pragmatismo deverão dominar os anúncios durante a Cúpula, que ocorre nestes dias 13 e 14. A relação do Brasil com a China, dada sua relevância, deverá se destacar entre as demais, embora, para além do NDB, devam também ser assinados documentos visando facilitação de comércio entre os cinco países.

Em 2019, Brasil e China mantiveram intensas trocas entre o alto escalão, incluindo visitas presidenciais, o que de certa forma surpreende quem esperava um alinhamento direto dos brasileiros com os Estados Unidos, em guerra comercial – e tecnológica – com a China. Ontem, o jornal O Globo trouxe publicação da Embaixada da China em que Xi Jinping e Jair Bolsonaro anunciam o comprometimento mútuo de seus governos e o apoio a suas políticas. O texto do brasileiro cita inclusive apoio ao sistema político chinês, mostrando que na diplomacia dos dois países, nada parece alterado. A Huawei, empresa símbolo da batalha norte-americana pela hegemonia na implantação da tecnologia 5G, deve poder participar do leilão que prevê a adoção deste sistema no Brasil e que deve ocorrer em 2020. Os EUA acusam a Huawei de ser prejudicial à segurança nacional e barram a entrada de seus produtos no país.

Para o agronegócio brasileiro, a China também é relevante, destino de 70% da exportação de frango e 30% de carne suína, sem contar a soja. Nesta terça-feira, o Ministério da Agricultura brasileiro anunciou que 13 novas plantas poderão exportar à China, somando-se às sete recentes aprovadas na semana passada. Os chineses vivem um problema interno grave com a peste suína africana, que, segundo projeções, pode afetar até 50% do rebanho local, pressionando o preço da carne suína no país, que é o maior consumidor no mundo.

No campo dos investimentos, a China é também relevante. Pode-se pensar no apoio da última semana no leilão do pré-sal, quando apenas três dos nove blocos ofertados foram arrematados, todos pela Petrobras, dois deles com partipação chinesa. O aporte estrangeiro ficará pouco abaixo dos R$ 10 bilhões.

Dado tal quadro, é esperar pelos resultados de um BRICS que deve ser majoritariamente pragmático. Na XI Cúpula, talvez seja a atuação do presidente Xi a mais preponderante para o Brasil.


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